quinta-feira, 1 de maio de 2014

UM CÁLICE DE VINHO DO PORTO

Servir um cálice de "Vinho do Porto", em "horas altas" é próprio de portugueses.
O Vinho do Porto é bebida mais nobre que pode servir-se e muito ultrapassa o chã, em "finesse".
É "vinho fino"!... e, no género nada há melhor que um bom "Porto"!
Quando se quer que a Paz e a tranquilidade inundem os corações, então é "hora alta", digna de bom "Vinho do Porto"!
"Um bom Porto, alegra corações, como “selo” de concórdia!"
Implica “pergaminhos”, é exigente em ritos e cultura por parte de quem o serve e usa pormenores e requintes subtis, que escapam ao menos prevenido!
Se fosse correcto dar vinho a bebés muitas vezes se ouviria dizer:
«- Este… Em pequeno ... bebeu “vinho fino”!»


Um singelo "Porto de honra", na pequenez e na humildade do cálice, serve para prestar grande homenagem à mais elevada personalidade, seja presidente, rei ou imperador!
Homenagear com "Vinho do Porto" é atitude discreta, mas nobilíssima muito fina!
Homenagem que compara as superiores virtudes do homenageado, com o prestígio do Vinho do Porto!

Mas os "ritos" ao serviço de um modesto cálice de "vinho fino" são exigentes; através dos tempos mais se acentua o uso de "objectos próprios ao seu culto". São adereços majestáticos que fazem parte da sua "corte".
A mesa patriarcal rodeada de cadeiras de madeira exótica e frágil, no centro do austero salão de tecto amasseirado de onde pende o lustre de cristal; a toalhinha de fino linho bordada por mãos de anjo, recorda ainda os beijos da fiandeira que adorna a mesa, é parte do cenário que continua na salva de prata fina, maciça, ornada de singelos lavores antigos, que rebrilham aqui e além no fundo negro da patine. O cenário completa-se, com flores delicadas; tacinhas de porcelana fina; garrafa e cálices de cristal lapidado, em miríades de facetas que mostram por transparência, o rubi pálido do néctar... e tudo se prepara para o encontro com o vinho de eleição.
Os maiores cuidados rodeiam o "ritual de servir"! ... ritual que é culto, conhecimento e "arte"! Que nada mais é que reconhecer qualidades; pressentir o espírito", o sublime" e a "raridade".
É saber "transmitir" sem pressas, com ordem. Fazer com que outros descubram superiores impressões sem que lhe tenham sido directamente reveladas!
Servir o néctar dos deuses sem cuidados, nem nobreza... é "sacrilégio".
O "vintage", acondicionado em garrafa de "design" rebuscado é servido com sofisticado aparelho basculante de "manivela e tarrachinha. São "mil cuidados, "para não turvar"!
Os bons vinhos, "são produtos naturais sujeitos a turvar"! ... diríamos que turvar, é garantia de qualidade!

Um amigo a quem servi o meu cálice de "Porto", com toda a delicadeza e sem pressas, foi sorvendo o néctar em doses mínimas. Ele provava-o com tais cuidados e atenção, que lhe seria fácil aperceber-se de minúcias de olfacto, de paladar e do rubi!
Era como se a minha pessoa estivesse a ser inspeccionada através daquele vinho.
Ele apreciava-o com a ponta da língua ou com as papilas da face inferior! Eu vi-o mirar o Vinho a contra luz procurando tirar prazer do aveludado, magnífico enquanto que os seus olhos e o rosto me transmitiam sensações de satisfação e agrado.
A nossa conversa desfiara na maior concórdia, até que, por fim, meu Amigo, visivelmente satisfeito, se retirara.
Mais tarde notei que no cálice havia ainda uma apreciável quantidade de Vinho; notei que, se deixara propositadamente um bom trago, foi por esmerada educação sua! Ele quisera que me apercebesse da discreta mensagem que me enviava: Queria que me apercebesse de que lhe servira vinho bom e em tal abundância; que chegou para saciar... e sobrara vinho!

"São insondáveis os segredos dos deuses e "tão delicados e ténues como teias de aranha com que no caminho nos deparamos à passagem, sem que as vejamos nem sintamos e alheios destruímos, o trabalho da humilde construtora!
Os "ritos" de que se rodeia o Vinho do Porto são muitíssimos e subtis! É "Vinho requerido por deuses", sempre ávidos de cultos, que se fazem rodear de "rituais antigos e cerimoniosos.

O Vinho do Porto, atinge o máximo da nobreza quando é oferecido a Deus no altar, como fruto da videira e tributo do trabalho de Homens humildes!


m. c. santos leite

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